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26 de Abril de 2024

Projeto de lei obriga o comércio a devolver o troco em centavos

Falta de moedas estimula práticas como dar bala de troco ou arredondar preço para cima.Problema é a cultura de desprezo dos centavos

Publicado por Vitor Guglinski
há 10 anos

Publicado em 30/07/2014 | Camille Bropp Cardoso

Um projeto de lei entregue à Câmara Municipal de Curitiba neste mês reacendeu a discussão sobre o costume brasileiro de desprezar o troco de poucos centavos. A proposta do vereador José Carlos Chicarelli (PSDC) se baseia em outras leis municipais para forçar comerciantes a dar troco correto ou arredondar o preço para baixo. Economistas e especialistas em Direito do Consumidor avaliam que medidas assim ajudam a melhorar a percepção de que o cliente sempre sai perdendo – afinal, é o fornecedor que escolhe cobrar preços quebrados. Mas também estão divididos quanto à vantagem que a regra traria na prática.

Um motivo é que há escassez de moedas, seja porque a produção caiu ou porque o brasileiro não as faz circular. As de R$ 0,01, por exemplo, deixaram de ser cunhadas em 2010 porque valem menos do que custam (R$ 0,16). O Banco Central considera o número de moedas “satisfatório”, com base em pesquisas de opinião. Aí está um segundo problema: faltam estudos sobre o impacto da falta de moedas para o troco retido e o montante de dinheiro que ele representa.

“Para ver o quanto isso prejudica o consumidor, teria que ver se os valores se anulam – ou seja, se o troco que fica no caixa equivale ao que é eventualmente entregue a mais; se a empresa o embolsa, o que configuraria caixa dois; ou se fica com os funcionários”, diz o professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, Reginaldo Nogueira.

Consequências

Com algum parâmetro, seria possível medir se as perdas para os clientes seriam ainda maiores se o mercado evitasse preços fracionados. O mais provável é de que as compras encarecessem. O BC não cogita regulamentar o assunto, por considerar preços quebrados “uma prática saudável”. Para o órgão, vale a orientação dos órgãos de Defesa do Consumidor, que atribuem a responsabilidade pelo troco ao comerciante – na falta de moeda, o arredondamento deve ser para menos (veja infográfico ao lado).

Nesse sentido, o projeto de lei municipal reafirma princípios que estão no Código de Defesa do Consumidor e em um projeto de lei federal (n.º 3.836/2008) que tramita na Câmara dos Deputados desde 2008. O próprio vereador Chicareli reconhece que o efeito seria mais educativo do que de preencher uma lacuna. O texto prevê avisos nas lojas sobre a obrigatoriedade da devolução integral do troco. O advogado Vitor Guglinski, especialista em Direito do Consumidor, vai além ao defender que evitar preços fracionados seria uma opção mais transparente. “As empresas vendem uma vantagem que não se confirma, porque não há garantia de troco.”

Resposta

A Gazeta do Povo consultou sete empresas que têm reclamações de consumidores no site Reclame Aqui por reterem troco em centavos. Nos três dias de prazo dados pela reportagem, cinco não responderam as perguntas sobre a política de preços fracionados e sobre qual a orientação para funcionários. São elas: Nissei, Extra, Pão de Açúcar e Lojas Americanas. A rede Mc Donald’s diz que mantém “estrutura de abastecimento” de moedas, mas não deu detalhes sobre o porquê de preços fracionados. A Droga Raia afirma que funcionários são orientados a dar troco exato. Já o Carrefour garante que dá vantagem ao cliente caso faltem moedas.

Tem que pedir

Insistir no troco correto ajuda a mudar cultura

O consumidor pode até se sentir prejudicado quando o troco não lhe é entregue, mas está longe de fazer valer esse direito. Segundo levantamento feito no ano passado pelo Banco Central, entre 2010 e 2013 caiu de 4,69% para 4,66% o porcentual de brasileiros que exigem troco correto, mesmo que seja um valor pequeno. Isso ajuda a explicar por que, no varejo, fracionar preços é comum até para produtos que não são vendidos por peso ou com margem de lucro pequena – situações em que o preço quebrado se justifica.

Antes estratégia para atrair clientela, fracionar o preço em 99 centavos – prática chamada de “ponta de preço” – é hoje cultura de varejo. “A ponta de preço virou alerta sobre oferta, mesmo que o preço não faça sentido”, explica o consultor de varejo João Carlos da Lapa, da Prátika. Assim, se chegou ao ponto de concessionárias de veículos adotarem a ponta de preço.

O problema é que o costume dá mostras de que precisa de limites. O economista Fernando Antônio Agra, especialista em finanças pessoais, lembra que há empresas já arredondando o preço para mais mesmo quando a compra é via cartão de débito, o que é claramente irregular. “O que é feito com frequência e sem ser questionado acaba virando verdade”, avalia.

O consumidor que seguir a orientação e exigir o troco corre o risco de enfrentar o julgamento do caixa e de outros clientes. A dona de casa Andrea Jeferson Mesquita, 43 anos, fez o teste. Após notar que a caixa do supermercado no bairro Capão Raso, em Curitiba, nem explicava o porquê de dispensar o troco, decidiu pedir a diferença. “A moça nem soube o que dizer. Disse apenas que não tinha moeda”, lembra ela, que mesmo assim pretende continuar pedindo o troco.

Procura-se

Mais de 50% das moedas de R$ 0,01 têm 20 anos

O sumiço das moedas de R$ 0,01 é um mistério para o Banco Central, já que a quantidade de moedas nesse valor oficialmente supera as de moedas mais valiosas, de R$ 0,25 a R$ 1. O número de moedas de R$ 0,01 em circulação hoje é igual ao de 2005. Cerca de 56,2% das moedas de R$ 0,01 foram produzidas entre 1994 e 1997. Em uma pesquisa de 2013, o órgão concluiu que, de cada dez moedas que o brasileiro possui, seis são usadas no dia a dia. As outras ficam guardadas em casa, no trabalho ou no carro, bolsas e gavetas. Dos consumidores ouvidos, 2,3% entregam as moedas para os filhos pequenos. Outros 1,63% guardam no carro para entregar a pedintes. O cofrinho é o destino das moedas para 1,58% dos entrevistados.

Fonte: Gazeta do Povo (http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?tl=1&id=1487491&tit=Projeto-de-lei-ob...

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91 Comentários

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Pois é. Tá aí uma boa. Aqui em Salvador, no Subway do Bairro da Pituba, um "Baratíssimo" com uma Coca-Cola custam R$ 10,05. Aí na primeira vez falou que iria ficar me devendo 0,5 centavos. Eu deixei pra lá. Duas, três vezes e aí eu já comecei a me ligar no que estava acontecendo e comecei a prestar atenção nos outros clientes - e acontecia a mesma coisa. Foi aí que eu sempre que estava indo ao Subway e me dizia que iria me dever 0,5 centavos, eu, na frente do caixa, anotava num caderno hora e data. Quando completou 1 real eu cobrei. :) continuar lendo

Caro Wagner, tudo bem?
Penso que você agiu corretamente.
A esposa de um colega meu, toda vez que ia na padaria, recebia balas como troco. Durante 1 ano ela juntou todas as balas que lhe foram dadas pelo caixa. no final do ano, ao se dirigir à referida padaria para fazer compras, despejou um saco de balas no balcão. O funcionário, como era de se esperar, protestou, dizendo que o estabelecimento não recebia pagamento em balas. ela, então, relembrou a ele que aquelas balas eram o troco que recebera durante o ano todo, mas o caixa insistiu em não receber. ante tal situação, ela pediu a presença do gerente, e disse que iria pagar a conta daquela forma, sob pena de acionar a polícia. O gerente, por sua vez, muito a contragosto, acabou tendo que engolir aquela situação. Resultado: nunca mais deixaram de dar o troco aos clientes.
Abraços. continuar lendo

Pois é, Dr. Vitor, de 0,5 em 0,5 centavos a gente não fica mais pobre, mas eles ficam mais ricos. Não abro mão de meus deveres e nem de meus direitos de consumidor.

Um grande abraço e obrigado por suas contribuições no JusBrasil. Eu lhe sigo e tenho aprendido muito. continuar lendo

Vou aprender com vc Wagner! :) continuar lendo

Acho que realmente é a cultura que faz a diferença. Lembro-me de realizar compras nos Estados Unidos e lá os caixas lhe devolvem o troco, seja de quanto for, até o último centavo; mesmo que tenhaM apenas moedas de 1 cent, eles irão lhes devolver. E daí o que eu mais vi foram brasileiros que desprezavam estas moedas e até as jogavam fora. Eu que não sou bobo fui recolhendo todas que pude e quando completei 10 dólares (1000 moedas em 3 dias), troquei por uma cédula num caixa sem qualquer dificuldade ou restrição e paguei o meu lanche do dia.... COMI DE GRAÇA!!! As custas da indiferença de tantos! continuar lendo

Com todo o respeito, esse projeto é inútil.
É que o mercado consagrou uma espécie de convenção nacional do troco, ao meu entender, bastante criativa e justa, baseada na seguinte lógica:
- Valor de R$ X,01 ou X,02 ou X,06 ou X,07 arredondado para baixo; e X,03 ou X,04 ou X,08 ou X,09 para cima, compensando-se no final das contas, sem qualquer prejuízo para o consumidor ou vantagem para alguém.
Por outro lado, essa história de bala já caiu em desuso. continuar lendo

Eu fico besta com algumas legislações que brotam no nosso País. Desde quando precisa ter uma norma legal dizendo, expressamente, que o comerciante tem que dar o troco certo para o consumidor?
É uma pura perda de tempo do legislativo! continuar lendo

Caro Getúlio, bom dia!

Eu disse a mesmíssima coisa à repórter quando concedi a entrevista pra essa matéria.

O Brasil, nos dizeres do juiz da Suprema Corte de Justiça da Argentina, Ricardo Lorenzetti, sofre de um "Big Bang legislativo", sendo que muitas leis são redundantes, pois repetem o que já está implícito ou explícito em outros diplomas legais.

Sua crítica é pertinente.

Abraços. continuar lendo

Foi o que pensei quando li. continuar lendo

Eu também fico escandalizada, mas não com o fato de se criarem leis para esse fim. Escandalizo-me realmente com o fato de ser obrigado criar uma lei para dizer ao comerciante que ficar com o troco dos clientes é imoral.

Passei por situação semelhante em um caixa dentro de uma agência bancária. Paguei a conta em dinheiro, faltavam R-0,05 centavos e o funcionário disse-me que não havia moeda para compor todo o meu troco.

Depois de dois minutos de "conversa" apareceram os R$-0,05. Apareceram simplesmente. Se fiz um escândalo, acha que foi necessário? continuar lendo

Inclusive amigo Getúlio, esta Lei é bem antiga, tão antiga que muita gente nem dela se lembra, além de ser uma atitude honesta por parte do comerciante. Estão querendo fazer um a Lei para que a Lei seja cumprida, interessante! continuar lendo

Sempre fico indignada quando entro em algum estabelecimento e vejo as etiquetas de preços com os famosos "99", que sempre resultam em contas arredondadas, para cima é claro! Por isto, nestes lugares, só pago no débito, mesmo que o valor seja pequeno. continuar lendo

Muito bem! De quebra, eles ainda têm que pagar ao banco! Boa idéia! continuar lendo

Sempre que possível também pago em débito para não sair lesado, mas existem casos em que é necessário comprar com dinheiro. continuar lendo

Além deste ponto importante de desprezo aos centavos, gostaria que fosse iniciado um movimento pelo fim da fixação dos preços dos combustíveis com 3 casas decimais. Já que a menor divisão da moeda nacional é o centavo (centésima parte do Real), como podemos pagar por um "milhavo" (milésima parte do Real) se esta moeda divisionária não existe. Se, por exemplo, um litro de gasolina é vendido a R$ 2,999, então em um abastecimento com 50 litros, você está sendo roubado em R$ 0,45 ou o equivalente a 0,15 litro. Se considerarmos um abastecimento semanal, então ao final de um ano você teria deixado de presente 7,8 litros de combustível.
Considerando ainda uma frota nacional de veículos de cerca de 40 milhões de veículos (dados de 04/2014), estamos falando em um roubo de 312 milhões de litros de combustível ou R$ 935,7 milhões (ao preço atual da gasolina).
Será que a OAB não poderia liderar esta batalha? continuar lendo

Isto se chama apropriação indébita na forma culta, ou roubo no linguajar tradicional. Os órgãos de defesa do consumidor têm a obrigação de atuar nestes casos.
O cidadão acha que os R$ 0,009 estão sendo desprezados, mas somente no final da conta é que se despreza a última casa decimal.
Como calculou o Eduardo, o resultado é só de R$ 935,7 milhões... continuar lendo